terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Poemas - do Livro - A Relva Dita a Cor das Nuvens - de Jeferson Bandeira - Campo Largo/ Paraná

meu pai entornava uns tragos, foi embora.
minha mãe era secretária - eu, com vergonha.
irmão, eu não tinha. "Deus sabe o que faz".
sozinho, menino, andando na 9 de julho.
via a história de joana ("uma menina,
mais ou menos, da minha idade
ia de carro em carro entregando um
bilhetinho")
comprida história que talvez não acabe mais.
no meio-dia branco de luz uma voz
tentava me animar, era minha imaginação
dando-me tudo o que a vida não quer.
sonho lindo que nem camila.
sonho gostoso, sonho bom.
depois do expediente, claro, a mãe ficava
sentada costurando (metáfora para quem
devia criar uma composição).
não reclamava, ao contrário de mim.
lá longe meu pai talvez medicasse.
tratando dos dentes de possíveis
pacientes de muita renda.
e eu aqui, invejando a vida de charles augusto
(que até nome de príncipe já tinha).
dizendo tudo isso sem saber
que a minha história
era mais bonita que a de joana.

Jeferson Bandeira