domingo, 28 de junho de 2020

Aquele Velho - de Heron Malaghini - Jacarezinho/ Paraná

Aquele velho.
Ficava sentado em sua cadeira de descanso com todo peso de sua existência em seu ombros.
Uma jornada na terra não é nada perto da eternidade porém o corpo cobra seu cansaço.
Seus reflexos não respondem mais, sua mente é confusa e o tempo mais do que nunca é senhor do seu destino.
Suas lembranças o acompanham a cada minuto.
Quando criança sua presença era alegria, seus sorrisos desarmavam qualquer resistência e cada vacilo seu, uma fala errada, trazia gargalhadas prazerosas em seus tutores .
Quando adolescente protegido pelos pais pensava ser a revolução que o mundo precisava, seus sonhos e prazeres eram a prioridade e o mundo tinha que se curvar diante de sua intempestividade, claro que isso sem perceber que o que evitava de sucumbir diante da realidade era a proteção amorosa de seus pais.
Quando maduro choque de realidade, seus protetores não mais o podem salvar, não neste plano de ação.
Mas supera seus temores e fracassos, em sua labuta torna-se base do que realmente importa nessa jornada.
Famílias, projeto de Deus base primordial da sociedade.
Os anos passam e a idade pesa, seu corpo não suporta mais.
Seu legado de luta e sua busca pelo esclarecimento é sua herança.
Poucos sabem sua verdadeira história, sua evolução, os monstros que destruiu, as trevas que o cercaram.
Agora parece perto do fim aos olhos ignóbeis daqueles que não conhecem a vida eterna.
O que se pensa ser o crepúsculo de homem na verdade é um novo alvorecer de luz.
Seus protetores já o aguardam, sua mãe já o monitora, suas lágrimas já não são por abandono e indiferença.
Novamente sua presença é alegria, suas cicatrizes de batalhas não doem mais.
Seu coração vascilante agora vibra com o reencontro tão esperado por décadas.
Suas esperanças agora são realidades.
Era filho, foi pai e avó, agora é filho outra vez.
O amor familiar dos entes que realmente se amam em ligações muito mais forte do que sanguínea.
A lei maior do universo a sintonia de Espíritos que se amam .
Nunca esteve sozinho, mesmo quando se sentia abandonado nas trevas da existência, mesmo que sua percepção não notasse a presença daqueles que sempre o amaram .
Retorna agora com os olhos cheios de lágrimas redentoras de gratidão.
Deixa para trás outros a chorarem amargamente suas falta porém resignados por saber que o dia do reencontro chegará.

Heron Malaghini